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Na indústria automotiva, ninguém dá ponto sem nó. Mesmo as informações que "vazam" costumam ter algum objetivo. Veja, por exemplo, a revelação da Volkswagen de que ela apresentará, no Salão de Genebra, um conceito elétrico de um buggy. Um modelo sem portas nem teto que dificilmente chegaria à produção em série.
Um dia antes, em entrevista ao jornal alemão Der Taggespiegel, a empresa disse, como quem não quer nada, que pretende que sua plataforma elétrica, a MEB, seja usada por toda a indústria. Por outros fabricantes. Quase como um sistema de software aberto. Quem disse isso foi ninguém menos do que Michael Jost, diretor de estratégia do grupo VW. Se juntarmos as peças, o que se desenha é um plano que vai além da fabricação dos carros. Um que foi, quem diria, inspirado pelo polivalente chassi do Fusca.
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Gurgel XEF
O Brasil talvez saiba disso como ninguém. Não porque o Fusca comemore neste ano 60 anos de início de produção nacional, mas por conta da proibição de importações. Dos anos 1970 até 1990, diversos pequenos fabricantes recorreram aos chassis do Besouro para criar veículos de estilo esportivo, mas com custos mais baixos de desenvolvimento. Foi assim que nasceram ou ganharam força modelos como Bianco S, Puma, Adamo, MP Lafer e companhia. Foi com um chassi de Fusca que nasceu o primeiro Gurgel, o Ipanema, e que a empresa deu vida a modelos reconhecidos pela robustez, como o X-12, ou pela raridade, como o XEF.
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Meyers Manx
O fenômeno foi visto até nos EUA, então o maior mercado de automóveis do mundo. Foi lá que o engenheiro Bruce F. Meyers criou, em 1964, o que é considerado o primeiro buggy do mundo, o Meyers Manx. Ele também optou por um chassi de Fusca, encurtado, para criar o veículo de recreação mais famoso do mundo. Se a Volkswagen já vendeu chassis e motores antes, por que não repetir a dose? Com o buggy elétrico, a ideia parece ser exatamente essa: a de sugerir a MEB para pequenos e grandes fabricantes.
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VW Dune Buggy EV
Veja o que a própria VW diz no informativo à imprensa divulgado com as imagens das silhuetas do Dune Buggy EV: "O novo conceito MEB mostra que essa plataforma completamente elétrica pode ser usada em mais coisas do que apenas em modelos de produção em larga escala. Como o chassi do Fusca de antigamente, a matriz modular elétrica tem o potencial de facilitar o desenvolvimento de produção para nichos de baixo volume".
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MEB
Em outros tempos, a MEB seria um segredo muito bem guardado, que a Volkswagen usaria para tentar fazer a concorrência comer poeira. Mas estamos em um momento de transformação radical da indústria. De questionamento dos motores a combustão, da produção em alta escala, do uso racional dos recursos naturais. Da obsolescência programada, que faz com que os carros atuais tenham ciclos de fabricação de apenas 6 anos, em média. Ainda não há padrões a seguir, por mais que a Tesla tenha progredido um bocado com seus produtos. Quem conseguir estabelecer esses padrões se tornará a referência. Como o VHS diante do Betamax nos tempos do videocassete.
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MEB
Além do ganho de escala de produção que a VW teria em vender sua plataforma a outras fabricantes, o que lhe permitiria amortizar mais rapidamente o investimento para criá-la, há outras vantagens ainda mais atraentes para a fabricante alemã. Primeiro, a VW poderia se tornar a referência em elétricos. O padrão a seguir. A fornecedora de motores. Dos pacotes de bateria. Dos sistemas de carregamento por indução. Em alguns anos, seria a empresa que definiu como serão os carregadores, as baterias, os equipamentos de gerenciamento elétrico.
Segundo, a facilidade de manutenção e a eventual robustez da MEB poderiam ser usados por pequenos fabricantes como uma espécie de "certificado de qualidade" aos clientes interessados em seus produtos. Como ocorreu com Gurgel, Bianco e Meyers Manx nos tempos do chassi do Fusca.
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MEB no VW I.D. Buzz
Só que o foco não são apenas os novos fabricantes, são também empresas bem estabelecidas. Jost diz que há conversas avançadas com "concorentes no segmento de volume". Isso praticamente confirma os relatos de que a Ford estaria considerando o uso da matriz da empresa alemã para seus futuros modelos elétricos. Seria um dos frutos da parceria recentemente anunciada pelas empresas no Salão de Detroit.
Versátil, a plataforma MEB pode ser usada com uma enorme variedade de veículos e carrocerias. Como a do conceito I.D. Buzz, apontado como a Kombi do futuro, revelado no Salão de Detroit de 2017.
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MEB no VW I.D. Crozz
Também pode ser transformada em um SUV, como o I.D. Crozz, apresentado no Salão de Xangai de 2017.
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MEB no VW I.D. Vizzion
A proposta mais recente da VW antes do Dune Buggy foi a de um sedã autônomo, o I.D. Vizzion, estrela da marca no Salão de Genebra de 2018.
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I.D. R mostra o que um VW elétrico pode fazer
Ciente de que é preciso aguçar as emoções dos interessados, a Volkswagen quer provar que elétricos são divertidos. E tentou mostrar isso com o carro de corrida I.D. R. Provavelmente com algumas das tecnologias aplicadas à MEB, ele quebrou o recorde absoluto da prova de subida de montanha mais famosa do mundo, a Pikes Peak Hill Climb, com 19,99 km e 156 curvas, completada em menos de 8 minutos.
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MEB no VW I.D.
A MEB foi apresentada pela primeira vez no conceito I.D., no Salão de Paris de 2016. Este é o elétrico puro que a Volkswagen deve apresentar em versão de produção no Salão de Frankfurt deste ano. O modelo final seria batizado de Neo.
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MEB no VW I.D. com tração apenas traseira
A exemplo do Fusca, o Neo terá uma versão apenas com tração traseira, a de entrada. Popular, como o Fusca foi concebido para ser. O fato de sua plataforma eventualmente servir a modelos de fabricantes de pequeno porte, mais do que saudosismo, é estratégia pura. Afinal, foi o Fusca que criou as bases para o nascimento de toda uma fabricante. Com o Neo e a MEB, a Volkswagen pretende lançar a fundação de um renascimento: a de uma fabricante de elétricos em larga escala.
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MEB com tração nas quatro rodas
A bem da verdade, a MEB pode facilmente adotar tração traseira, dianteira ou nas quatro rodas. Basta que o eixo correspondente receba o motor elétrico. Concebida para isso, a plataforma modular exigiria apenas uma operação "plug and play", para as ligações do motor ao pacote de baterias e aos sistemas de gerenciamento. O dianteiro tem potência de 102 cv. O traseiro, de 204 cv.
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Família VW I.D.
Esses são, até agora, os membros da família de conceitos elétricos da Volkswagen: o hatchback I.D. (esq.), a van Buzz, o SUV Crozz e o sedã Vizzion.
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MEB escalável
A Volkswagen diz que a MEB é escalável, ou seja, que pode ser aumentada ou diminuída de modo muito simples. Não seria necessário encurtar o chassi, como aconteceu com o Meyers Manx. Bastaria definir de quantos pacotes de baterias o veículo iria precisar. Quanto mais módulos tiver, mais longe o modelo em questão poderá ir. E mais caro será.
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MEB escalável
É isso que permite, por exemplo, que o conceito Vizzion apresente um pacote de 111 kWh. A versão de entrada do I.D. foi criada para ter um pacote de 48 kWh, o que mostra bem a flexibilidade da plataforma.
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MEB trará elétricos para todos?
Se o Fusca nasceu para ser o carro do povo (Volkswagen, em alemão), a plataforma MEB tem o objetivo, como diz a própria marca, de "electric for all". Carros elétricos para todos. O que o Dune Buggy mostra não ser apenas aos clientes, mas a qualquer fabricante que queira utilizar a MEB.
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MEB
Se a ideia for confirmada, devemos ver um ressurgimento de encarroçadores, os "carrozzieri", e construtores de modelos fora-de-série. Especialmente fora do Brasil. Se os modelos elétricos estiverem nos planos da Volkswagen para cá, talvez vejamos algo parecido por essas bandas, mas em não menos de 10 anos, sendo muito otimistas.